(Arraiolos) No Castelo Circular, o Silencioso Braseiro de Memórias

O Calor Alentejano não se descreve, experiencia-se. Mas isso é para quem está apto. Arraiolos dos tapetes coroa na sua colina mais perfeita um Castelo elíptico, tal como se pensa a trajectória da Terra ao redor do Sol. No que resta do Paço onde Nuno se sentou para meditar sobre a arriscada relação entre vida e morte, moram hoje os pombos. E nesta região onde o Horizonte é mais longilíneo do que em qualquer outra, até os cães são lânguidos…

(A Criatura Elipsóide, Jehoel)

(...) Ainda muito quente, mas já possível de circular, faço pelo meu próprio pé o caminho que há pouco só pude fazer protegido pelo carro. Sempre de olhos postos na encosta que se eleva sobre mim suave como um seio maduro, sobre a qual assenta em halo a muralha que vou apreendendo assim de diferentes perspectivas, precisamente como se deve fazer a um peito no leito da Amor. Sou o Peregrino em celebração ao Espírito do Lugar. (...)

(Unhais da Serra) Uma Vila no Bardo

Entrei como saí, em silêncio, tão despovoado de sensações como a Vila de emoções. Anódina, parece estar perdida algures entre o reconhecimento de que terá morrido e a falta de vontade de voltar a encarnar. Unhais da Serra, o fantasma da “Pérola da Beira”, uma vila esquecida de que um dia existiu e incapaz de perceber que já morreu.

(Rumo ao Terroeiro, Jehoel)

(...) Estou no derradeiro sopé da possante elevação que se acredita corresponder aos Montes Hermíneos segundo os tratadistas do Império Romano. Os Montes de “Hermes", o deus mensageiro também conhecido por Mercúrio e associado aos pastores, terão sido o berço de Viriato, o guerreiro lusitano de quem pouco se sabe mas muito se conta. Algures por entre este jogo natural de lombas e concavidades traçado sob a rispidez da pedra, quem sabe até mesmo neste preciso lugar, esse homem carismático comandou um punhado de guerreiros numa eficiente guerra de guerrilha contra os romanos e que só acabou com traição porque a cobiça humana sempre tem sido confundida com Glória. (...)

(Sintra) Algures Antes ou Depois da Aldeia Galega

Pelo caminho encontrei dois relógios parados e abandonados à beira da estrada. Uma coincidência de cujo significado abdiquei sabendo que as respostas vêm quando a Mestra Vida me sentir preparado a recebê-las. Vi o Pôr-do-sol, tentei segui-lo algures entre uma árvore filha da Natureza e um cata-vento filho do Homem. Na volta uma troca de olhares.

(Fitar, Jehoel)

(...) num final de Março que já devia ser Primaveril, mas ainda não o é. Longe disso. Há um frio ríspido que percorre a periferia da minha Alma e que vem sentado no dorso de uma brisa serpentina. Aqui, o Inverno ainda persiste e pergunto-me se este lugar tolerará outra estação que não a de Saturno e Úrano. (...)